quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mais uma entrevista que fazemos aqui no blog. Desta vez, falamos com o querido Aurélio Mendes, autor de Orbis (http://www.resenhasdeumaleitora.com.br/2013/08/resenha-orbis-aurelio-mendes.html).


Esta entrevista ficou muitíssimo interessantíssima, pois vocês enviaram muitas perguntas. Agradeço a todos os que participaram, anonimamente ou não. Inclusive, não coloquei o nome de quem se identificou ao enviar a obra.
Sem demoras, vamos à entrevista:

1. O que lhe motivou a escrever sua obra Orbis? (pergunta enviada por leitor)
Existem diversos tipos de motivações diferentes para a escrita dessa obra. A motivação de longo prazo é aquela que vem desde quando eu iniciei a leitura no mundo da literatura fantástica. O livro que abriu esse gênero no meu gosto foi 1984, de George Orwell. Mas foi a leitura de Admirável Mundo Novo que realmente colocou a pauta da ficção científica e da distopia na minha mente. Contudo, ressaltarei, nessa época eu ainda não exercitava meu trabalho de escritor(por isso chamo isso de motivação a longo prazo). Foi a fase dos 14 até os 15 anos. Comecei a escrever com 16 anos, mas apenas contos. Um romance integral ainda não conseguia terminar por falta de maturidade. Por isso, chegamos à motivação de médio prazo, o amadurecimento da qualidade de minha escrita começou a delimitar quais temas eu gostaria de abranger em meus textos. Comecei a escrever diversos contos com temáticas filosóficas e de crítica social. Logo, minha mente foi retomando as ideias presentes nas distopias de Orwell e Huxley. A medida a curto prazo, sendo ela o estopim para a escrita do livro, foi um momento de ócio de minha vida. Fiquei 5 meses em casa parado entre o ensino médio e a universidade, graças a greve de 2012. Nesse tempo eu já tinha diversas ideias sobre o projeto em si, mas nada no papel. Entendam que as ideias foram surgindo ao longo de todo esse período de tempo. Apenas, nesses meses, decidi tentar colocá-las no papel. Eis que, assim, nasce Orbis.


2. Existe algum outro trabalho que será publicado num futuro próximo ou mesmo que esteja escrevendo? (pergunta enviada por leitor)
Por hora, estou num momento de aquisição de inspiração. Voltei a ler obras clássicas da literatura além das obras de autores modernos. Ideias eu possuo várias, mas nada concreto ainda sobre a próxima obra. Contudo, adianto que não demorará para que eu comece a sistematizar tais ideias no papel.


3. Eu gostaria de saber quanto tempo você levou pra escrever Orbis? E como se sentiu ao ver sua obra aceita pelo público de forma tão espetacular? (pergunta enviada por leitor)
Bom, essa é uma pergunta um pouco difícil de responder, porque Orbis foi escrito em 2 partes. Logo que terminei a publicação de uma coletânea de contos minha em Outubro de 2012, a chamada Pensamentos Singulares, comecei a rascunhar Orbis. Digo rascunhar porque naquela época o nome provisório da obra era ‘Paralelo Real’ e havia até a intenção de a história contida toda em Orbis ter sido dividida em 3 livros. Percebi, conforme fui escrevendo, que não haveria tal necessidade. Acontece que nesse primeiro momento consegui escrever apenas as 25 primeiras páginas. Nada mais que eu achasse válido eu conseguia escrever. Deixei o manuscrito de lado por um tempo, até meados de Março de 2013. Decidi voltar a escrevê-lo. Podemos dizer que no final de Abril de 2013 a obra estava pronta(sem a diagramação e revisão do autor). Contabilizando todo o tempo, foi praticamente 1 mês para escrever a obra toda. Na etapa final da escrita, havia dias que eu chegava a ficar escrevendo por quase 5h até 6h seguidas, e geralmente nas madrugadas.


4. O que te levou a escrever Orbis? Foi fácil desenvolvê-lo ou encontrou alguma dificuldade? (pergunta enviada por leitor)
Quanto a primeira pergunta, sobre a motivação de escrever a obra, respondi já ela por completo na pergunta um. Vamos, portanto, falar sobre o desenvolvimento e sua facilidade e dificuldade. Isso ainda posso discorrer algumas palavras. Orbis não foi uma obra de difícil construção narrativa, contudo não foi uma obra de elementos narrativos de fácil construção. A estrutura narrativa, bem como o vocabulário(mesmo que um pouco rebuscado), são qualidades inerentes a minha própria escrita, por isso não obtive muitas dificuldades. Quanto a construção dos elementos, isso demandou-me certo tempo, pois eu não queria nada que não fosse realmente pensado dentro da obra. Existem infinidades de exemplos das construções, umas explícitas, outras de caráter bem mais implícito. Discorrerei apenas algumas por aqui.

Primeiro, vamos falar sobre a nomeação das personagens. – ATENÇÃO,à partir daqui talvez seja necessário fazer alguns pequenos spoilers, leia por sua conta e risco(porém, não irei revelar implicações importantes do enredo). O protagonista chama-se Musin, e não é um nome aleatório. Para entendermos, precisamos pensar em outra coisa além de seu nome, sua função na colônia. Musin trabalha com o sistema de cotas de nascimento. Ou seja, alie duas palavras: MUSIN + COTAS = MUSINCOTAS. A nova palavra é nada mais que um anagrama de COMUNISTAS. Ou seja, prescreve certa ideologia desenvolvida pelo personagem na obra. Outro exemplo, o nome do general pertencente ao grupo revolucionário, Toussaint. Toussaint existiu na história da humanidade. Foi o líder da Revolução escrava do Haiti, libertando aos valores da Revolução Francesa tal colônia da dominação da França(apenas dizendo em linhas gerais). A ideia de usar um personagem desse cunho na obra é, além de transpor seus ideais para o personagem, é também criar um laço de verossimilhança entre a ficção e a realidade. Tal verossimilhança pode ser vista através do prólogo também. O motivo de eu escrever um prólogo histórico é na tentativa de colocar Orbis como uma continuação da própria história humana atual. Isso serve também para criar um laço mais forte com a Distopia, que tem esse caráter por si só. O nome das classes sociais pode ser tido como outro exemplo também, em que o nome por si já demonstra a função na sociedade. Sendo que por utilizar-se de nomenclaturas de partes do corpo humano, o todo do corpo é o governo(por isso corpora para os que pertencem a classe do governo). Existem muitas outras além das citadas(adiantando, o nome de TODAS as personagens do livro possuem um motivo – seja ele explícito ou implícito) e mesmo essas que eu discorri por aqui poderiam ter explicações mais minuciosas. Resta, portanto, que o leitor obtenha por si só as interpretações de cada referência através da leitura da obra. Um pretexto para que a comprem(risos do autor).

5. Qual a emoção de ver sua obra nas mãos dos leitores? (pergunta enviada por leitor)
Um sentimento bom difícil de descrever. Podemos sintetizar com a expressão REALIZAÇÃO. Ver que as pessoas buscam seu trabalho para poder sentir aquilo que sentia enquanto escrevia.


6. Sua família já leu o livro, ou mesmos os rascunhos? Eles aprovaram? O que disseram? (pergunta enviada por leitor)
Minha família não leu o livro atual, meu livro de contos anterior, rascunhos ou qualquer outra coisa que eu tenha escrito. Não comentam muito comigo sobre isso por dizerem que meu hábito de escrever atrapalha certas coisas em minha vida. 


7. Desde de pequeno você sonhava em ser escritor ou a ideia foi amadurecendo com o tempo? (pergunta enviada por leitor)
A ideia surgiu no Ensino Médio, com o fascínio pelos escritores clássicos, principalmente por Machado de Assis. Grande parte dos autores brasileiros iniciaram suas carreiras cedo e a maioria de suas obras de sucesso foi escrita quando ainda eram jovens. Sigo-os como inspiração, como marco de vida.


8. O que te inspira para escrever? Alguma música em especial? (pergunta enviada por leitor)
Difícil dizer uma inspiração específica. Quase tudo pode servir de pretexto para escrever, basta que eu esteja no momento certo para criação. Uma música em especial poderia ser Mistério do Planeta, dos Novos Baianos.


9. Você disse que sua inspiração para pontuação foi Machado de Assis, e que Gattaca teve influência para alguns conceitos da trama, então eu gostaria de saber como surgiu a ideia para "Orbis" e como foi o processo de criação da distopia? (pergunta enviada por leitor)
Seu questionamento já fora respondido nas perguntas 1,3 e 4. Caso tenha uma questão específica sobre construção, mande-me um e-mail. Ficaria realmente grato em respondê-la. Contate-me no marco‑aurelio-sm@hotmail.com


10. Você pretende se aventurar por outro estilo/gênero literário? (pergunta enviada por leitor)
Na verdade, já faço isso. Sou poeta e contista também. Possuo uma coletânea de contos já publicada chamada Pensamentos Singulares(pode ser encontrada na livraria cultura). Participei da antologia poética ‘Mil Poemas para Gonçalves Dias’, realizada pela UFMA. Contudo, maioria de minhas poesias podem ser encontradas no meu blog literário. Deixarei o link aqui: http://devumi.tumblr.com/
 

11. Se você tivesse que escolher um único livro, qual seria e por quê? (pergunta enviada por leitor)
Certamente escolheria ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’. Primeiro, devido ao autor. Considero Machado de Assis como o primor de nossa literatura. Segundo, pelas inovações literárias pertinentes a época, como as digressões e quebra do romantismo. E por fim, diria também pelo próprio tom irônico de escrita do Machado, que joga um balde de água fria na esperança utópica romântica, utiliza-se incansavelmente de referências a célebres autores mundiais, textos religiosos, conceitos de economia, filosofia, sociologia, política e até mesmo alguns das ciências exatas.


12. Qual é a maior dificuldade: escrever o livro ou a divulgação e recepção, depois de pronto?
A divulgação e recepção é o maior desafio. O cenário nacional editorial ainda dificulta o caminho de autores iniciantes ou sem poderio econômico de estabelecerem um público. Segundo, a forma como a sociedade lida com literatura mudou bastante. Há 30 anos ou até menos, uns 20 anos, o Jornal era uma ferramenta excelente. O auge da publicação de contos, poesias ou folhetins nesse veículo era o que fazia um autor ser conhecido, para assim instigar um público a querer ler um possível romance na íntegra. Atualmente, a internet faz até certo ponto esse papel do jornal. Contudo, o público mudou sua visão para procurar autores. Muitas vezes, não é uma poesia, um conto ou uma frase de bom cunho literário que faz uma pessoa ir atrás de certo autor. É o bom marketing editorial, com uma boa capa, um book trailer bem feito, diversas resenhas e críticas antecipadas.


13. Qual personagem de Orbis você considera mais intrigante ou, talvez, misterioso? Por quê?
Tentarei não utilizar-me de spoilers ao máximo. Sendo breve, o personagem que eu coloquei mais mistério foi no protagonista Musin. Deixar com que ele se perturbe com seus próprios pensamentos foi a chave para esse mistério. A intriga estava o tempo todo dentro dele, e com o passar do livro(creio eu), é possível ir distinguindo os níveis de evolução e criação sentimental dentro daquela personagem, gerando até mesmo um laço de empatia entre personagem e autor.


14. Você tem algo a dizer aos seus leitores? Por favor, deixe uma mensagem.
Nunca desista de seus sonhos, mesmo que todos ao seu redor digam o quão impossível e utópico aquilo é. Acreditar é o passo principal para que seus objetivos aconteçam. Tento transpor um pouco disso em meus livros, mesmo que de forma sutil. A vida é muito breve para que seja pouco aproveitada e que lutemos pouco por aquilo que acreditamos.
Finalizo com o pedido para que todos leiam e ajudem na divulgação de Orbis, pois não é o autor que faz uma obra, e sim seus leitores. Cada um pode fazer sua contribuição, mesmo que pequena, para que a obra galgue seu espaço entre os grandes nacionais.
Termino essa entrevista e mensagem com um poema que fiz um tempo atrás:

A vida que foi

As vozes calaram
e apenas restaram
uma dor quieta
de um passado amargo.

Cá na Terra muitos
deixaram um traço,
folha rabiscada,
de sua obra um pedaço.

Alma envenenada
a qual sempre foi,
no mundo passou,
aqui não ficou.

Ficaram abraços,
ficaram lembranças,
e todos na forma
de vil ponte estéril.

Em escuridão
Só resta a clamar
Versos de Drummond :
‘’E agora, José ?’’

Aurélio Mendes
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2 comentários:

  1. Uau, quantas perguntas!!! =)
    Gostei das respostas e do anagrama, acho legal tal uso.
    E dos livros citados li apenas "Memórias Póstumas (...)", e vi a peça. =)
    Orbis teve uma longa gestação. =)
    Sucesso e inspiração para a nova obra.

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  2. Amei a entrevista!!! Fiquei ainda com mais voante de ler "Orbis". Muito legal ver ele citando livros e escritores que eu AMO. George Orwell e Admirável Mundo Novo por exemplo <3
    Muito sucesso pra ele!!

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